Passei a última semana inteira - e mais alguns dias - aguardando pelo resultado de um tão sonhado processo seletivo no qual participei. É a chance que eu esperei por anos, a oportunidade que veio lenta, mas que enfim, chegou. Eu acordei exatamente na hora em que a classificação foi divulgada (naturalmente, sem sequer ter programado um alarme para isso), segundos após acordar eu já estava com o celular em mãos, carregando o site que já estava salvo no meu navegador. E o que eu fiz quando descobri que passei? Fiquei aliviada por não ter falhado, de novo.
Sou viciada em desviar muito da minha atenção para cada coisinha que não dá certo na minha vida. Já as minhas vitórias, passam totalmente despercebido por mim, e dessa forma é óbvio que eu sempre me sentirei uma fracassada, eu sem querer treinei a minha mente para me enxergar como uma. Não tenho o costume de me lembrar de tudo que já conquistei desde que me tornei adulta, mas me pergunte o que não deu certo comigo, para ver se não te entrego uma lista em ordem cronológica com mais de duas laudas. Eu fiquei em segundo lugar no processo seletivo, fui classificada e a qualquer momento poderei ser convocada para o o cargo em questão, e tudo que senti foi alívio, e não felicidade, alegria, ou sequer uma mínima empolgação. Na tarefa de agradar a mim mesma, eu sempre falho.
Uma pessoa hoje me disse para eu não me cobrar tanto, assim como para abrir um espacinho nos meus pensamentos para incluir tudo o que consegui fazer. E ela mesma listou as minhas conquistas e me enviou. Vitórias essas que, a primeira vista, podem parecer pequenas, mas que no meu caso, na verdade são grandes quando é colocado em perspectiva que semanas atrás, nada disso era possível por uma série de razões externas.
Seguindo seu exemplo, resolvi listar tudo o que consegui me lembrar neste momento de boas coisas que fiz por mim mesma ou pelos outros, não importa a dimensão:
Tirei a carteira de motorista (carro e moto);
Escolhi uma faculdade e me matriculei em um curso da minha escolha;
Tenho um emprego estável desde que terminei o ensino médio;
Mantive amizades mais antigas;
Fiz novas amizades;
Encontrei uma psicóloga e comecei a fazer terapia;
Aprendi a sair sozinha e aproveitar a minha própria companhia;
Consegui ingressos para dois shows que eu sonhava em ir;
Fui a algumas excursões totalmente sozinha;
Me coloquei em situações desconfortáveis para mim (como sociais), mas dei conta do recado;
Sempre me esforço para tirar boas notas da faculdade;
Tenho uma boa relação - na medida do possível - com a minha família;
Não tenho receio de me vestir como me sinto confortável;
Tenho hobbies para passar o tempo de forma agradável;
Cuido da minha saúde física e mental;
Consegui sair de um momento difícil onde desenvolvi crises de pânico;
Passei por uma cirurgia e por uma internação de duas noites no hospital sozinha;
Me tornei mais aberta a falar sobre como me sinto;
Conquistei coisas materiais com o meu próprio salário;
Superei tabus que eu me auto impunha;
Apesar de ser uma pessoa extremamente reclamona e pessimista, eu nunca desisto, estou sempre tentando algo para me desenvolver;
Me importo muito com as pessoas de que gosto;
Sou presente na vida dos meus avós e estou sempre na companhia deles;
Superei a minha heterossexualidade compulsória;
Sei ouvir as pessoas.
E voilà! Quem diria que quando diminuímos um pouquinho o nível de autocrítica, podemos pensar em tantas coisas positivas sobre nós mesmos. Quando coloco esta lista e outros feitos ao lado das minhas “derrotas”, é totalmente desproporcional, os “sim” são em maior quantidade que os “não”. Mas a minha mente vive em constante distorção para inverter a ordem.
Todos eles dizem que isso melhora
Isso melhora quanto mais você cresce
Sim, todos eles dizem que isso melhora
Isso melhora, mas e se eu não melhorar?
Olivia Rodrigo em “Teenage Dream”
Acho que isso é o que chamam de “Crise dos 20 Anos”. É basicamente quando você se vê totalmente perdido, sem saber o que fazer da sua vida, ao mesmo tempo em que todos ao seu redor parecem estar ótimos, com tudo resolvido e conquistando muito mais do que você. Vou te contar um segredo: está TODO mundo na mesma! A menos que você seja um herdeiro, não está fácil para ninguém. E eu ao invés de me tratar bem e dar atenção as minhas vitórias na mesma escala em que noto os meus erros, decido me martirizar, como se fosse resolver alguma coisa. Faz anos que me sinto estagnada (o que, em momentos de lucidez, vejo que não é a verdade), estou desesperada para sentir que evoluí, ao mesmo tempo em que fecho meus olhos para os momentos em que a evolução acontece, mas não da forma que eu idealizei. Quando eu estou ansiosa, mas mesmo assim saio de casa, é uma conquista. Quando caminho ou vou para a aula de Pilates cuidar da minha saúde, é uma conquista. Quando termino uma semana difícil em que consegui trabalhar e estudar (este segundo pelo menos na maior parte dos dias), é uma conquista. Quando pago por todas as minhas coisas com meu próprio dinheiro, sem gerar maiores gastos para meus pais, é uma conquista. Quando faz meses desde que tive minha última crise de pânico, é definitivamente uma conquista. Às vezes, o que nos falta é fazermos da nossa vida, um grande mousse. É isso o que ela é.
Deixei um vídeo da psicóloga Vivi Ribeiro onde ela explica um pouquinho mais sobre a Crise dos Vinte Anos, para quem tiver interesse em explorar mais o assunto.
Falar agora é extremamente fácil, mas sinto que volto para a estaca zero de evolução auto pessoal quando a mínima coisinha não sai como eu idealizei. Porém, espero me lembrar desta edição da nossa newsletter e da minha lista para a próxima vez em que eu decidir que algo que não aconteceu no exato tempo em que eu estipulei, significa que nunca nada que eu faço, dá certo.
Meu pai me disse duas coisas: a primeira, que não adianta esquentar a cabeça com coisas que não estão sob nosso controle. E a segunda, que coisas que estão destinadas a serem nossas, simplesmente serão e pronto. Eu não sou um fracasso por não ter a minha vida totalmente resolvida em todos os aspectos aos 22 anos. E não é justo comigo viver ignorando tudo o que eu já fiz por mim e por quem amo. Nem tudo vai vingar, mas também nem tudo falha. Minhas conquistas merecem ser sentidas e comemoradas, não desejo mais sentir apenas alívio, não é o bastante. Mas eu sou o bastante para mim. Eu não sou um fracasso.